Representação visual de comprimidos coloridos divididos em duas pilhas, uma com antipsicóticos típicos e outra com atípicos, sobre mesa branca, com fundo clínico desfocado e elementos de neurologia.

Quando olho para a história da psiquiatria, sempre me impressiono com o impacto profundo dos antipsicóticos na vida de pacientes, familiares e comunidades. Os transtornos psicóticos, como a esquizofrenia e o transtorno esquizoafetivo, estão entre as condições psiquiátricas que mais causam sofrimento. Eles modificam a percepção, o pensamento e até mesmo a relação com a realidade. Sei que cada novo avanço nesse campo mudou destinos, literalmente.

O que são os transtornos psicóticos?

Ao conversar com profissionais e estudantes, noto que há sempre uma dúvida fundamental: o que caracteriza um surto psicótico? Transtornos como a esquizofrenia não afetam só o indivíduo, mas influenciam toda uma rede de relações. O prejuízo é generalizado: alterações no pensamento, emoções confusas, comportamentos desajustados e, muitas vezes, uma perda do senso de si e do contato com o mundo.

A psicose rompe a ponte entre realidade e percepção.

Não raro, pacientes relatam sofrimento intenso, enquanto famílias se veem impotentes diante do desconhecido. O impacto social também se faz sentir: afastamento do trabalho, isolamento e até estigma.

O nascimento dos antipsicóticos e a virada dos anos 1950

Foi na década de 1950 que tudo mudou. Antes, o tratamento era basicamente institucionalização, internamentos longos, com poucas esperanças de reintegração. Então surgem os antipsicóticos, revolucionando o cenário. Muitos pacientes puderam deixar hospitais psiquiátricos e reconstruir sua vida social. Recordo relatos marcantes de pessoas reencontrando o cotidiano, retomando projetos e laços familiares.

Paciente recebendo medicação em ambiente hospitalar

Primeira geração: antipsicóticos típicos

Os antipsicóticos típicos, também chamados de primeira geração, foram os pioneiros. Eles marcam uma era em que o foco era bloquear intensamente a dopamina, especialmente nos receptores D2. Exemplos clássicos são haloperidol, clorpromazina, perfenazina e levomepromazina.

Como atuam os típicos?

O mecanismo é direto: bloqueio forte dos receptores dopaminérgicos. Isso reduz os sintomas chamados “positivos” da psicose, como delírios e alucinações. Por isso, vejo seu uso em situações de emergência, surtos agudos, agitação e delírio. No hospital, o haloperidol é praticamente onipresente nas emergências psiquiátricas pelo rápido controle de sintomas.

Limitações e efeitos adversos comuns

No entanto, esses medicamentos não têm impacto significativo nos sintomas negativos (apatia, isolamento, prejuízos cognitivos), uma limitação importante.

  • Parkinsonismo medicamentoso: rigidez, tremores, dificuldade de movimentação.
  • Acatisia: inquietação, sensação de não conseguir ficar parado.
  • Discinesia tardia: movimentos involuntários e repetitivos, que podem se tornar permanentes.
  • Síndrome neuroléptica maligna: quadro raro, mas gravíssimo, com febre alta, alteração do nível de consciência e rigidez muscular extrema.

Sei de muitos casos em que o uso prolongado de típicos acaba resultando em discinesia tardia, um efeito colateral difícil de tratar e, muitas vezes, irreversível.

Segunda geração: antipsicóticos atípicos

Na década de 1990, surge uma nova geração: os antipsicóticos atípicos. Modernizam o tratamento e ampliam opções para diferentes perfis de pacientes. Seu principal diferencial está em atuar não só sobre dopamina, mas também em receptores de serotonina.

Como funcionam os atípicos?

O mecanismo misto oferece vantagens importantes: menor risco de efeitos motores (como parkinsonismo e acatisia) e melhor resposta para sintomas negativos e cognitivos. Exemplos bem conhecidos são:

  • Risperidona
  • Olanzapina
  • Quetiapina
  • Clozapina
  • Aripiprazol
  • Lurasidona

Indicações além da esquizofrenia

Me surpreendo até hoje com a versatilidade dos atípicos. Além da esquizofrenia, são prescritos para:

  • Transtorno bipolar (principalmente na fase maníaca e em episódios mistos ou graves)
  • Irritabilidade no autismo
  • Depressão resistente, em combinação com antidepressivos (alguns casos específicos)
Psicólogo conversando com paciente em consultório confortável

Os novos desafios dos atípicos

Apesar da grande tolerabilidade motora, há um novo problema: efeitos metabólicos. Ganho de peso, aumento do colesterol, diabetes e sonolência são frequentes, prejudicando a saúde geral e a qualidade de vida dos pacientes. A clozapina, especificamente, é poderosa para esquizofrenia resistente, mas exige controle rigoroso de exames de sangue devido ao risco de agranulocitose (redução grave dos glóbulos brancos).

A liberdade de escolha terapêutica ampliou a autonomia dos pacientes, mas impôs novos cuidados.

Atípicos ou típicos: como decidir?

Ao acompanhar casos clínicos e interagir com colegas de diferentes regiões, percebo que a decisão não é simples nem unidimensional. Entre os fatores a considerar, destaco:

  • Tipo e gravidade dos sintomas (positivos, negativos e cognitivos)
  • Histórico de resposta a medicamentos anteriores
  • Comorbidades clínicas (como diabetes, problemas cardiovasculares e obesidade)
  • Risco de efeitos colaterais
  • Acesso a tratamento (os atípicos ainda têm custo maior, embora algumas moléculas estejam disponíveis pelo SUS)

Trago à tona experiências em que pacientes, por falta de acesso a atípicos, mantêm uso de típicos e acabam lidando com efeitos motores, enquanto outros preferem conviver com um pouco de sonolência a trocar por efeitos mais graves.

O melhor caminho quase sempre envolve escuta, colaboração entre médico, psicólogo, enfermagem, o paciente e também a família. Plataformas de apoio, como a Singular, ajudam a organizar esse cuidado conjunto, facilitando a comunicação, confirmação de consultas e acompanhamento terapêutico, tanto para profissionais quanto para pacientes.

Além disso, vejo a Reforma Psiquiátrica e as políticas de saúde mental como o pano de fundo dessa escolha. Pensar em prescrição vai muito além da escolha do medicamento: é olhar para autonomia, adesão, suporte psicossocial e reinserção social.

Avanços e limites: a experiência do cuidado

No fim das contas, o avanço dos antipsicóticos típicos e atípicos trouxe mudanças marcantes e períodos históricos bem definidos.

A escolha nunca é só sobre a medicação.

Ambos os grupos têm benefícios claros e pontos de risco. O desafio está em encontrar a melhor estratégia, levando em conta o contexto de vida do paciente, possibilidades clínicas, limites do sistema e os valores de autonomia e liberdade.

Se você se interessa em aprofundar esse tema ou ampliar seus recursos clínicos e teóricos, recomendo acessar áreas dedicadas ao universo psicológico, como o blog de psicologia da Singular e conteúdos sobre psicologia clínica. Você também pode aprimorar sua prática em telepsicologia através deste guia prático para atendimento em telepsicologia.

Para quem atua diretamente com a gestão e organização de clínicas, recomendo conhecer mais sobre soluções digitais para psicologia e também aplicativos para consultório desenvolvidos com foco em profissionais da saúde mental.

Conclusão

Enxergo, ao longo dos anos, que o debate entre antipsicóticos típicos e atípicos vai muito além da farmacologia: é sobre o cuidado integral. Cada caso é um universo e requer decisões criativas, sensíveis e baseadas no diálogo contínuo entre profissionais, pacientes e familiares. Se você é psicólogo, estudante ou atua em saúde mental, convido a conhecer a plataforma Serpsi. Lá você encontra mais de 40 cursos com certificado, conteúdos exclusivos, atualização semanal e apoio direto a quem busca excelência no cuidado terapêutico.

Perguntas frequentes

O que são antipsicóticos típicos?

Antipsicóticos típicos são medicamentos da primeira geração que atuam principalmente bloqueando receptores de dopamina (D2) no cérebro, reduzindo sintomas positivos como delírios e alucinações nas psicoses. São usados com frequência em situações agudas, especialmente pela rapidez de ação, mas têm maior chance de causar efeitos motores, como parkinsonismo e discinesia tardia.

O que diferencia antipsicóticos típicos e atípicos?

A principal diferença está no mecanismo de ação. Enquanto os típicos focam na dopamina, os atípicos combinam bloqueio de dopamina e serotonina, o que reduz efeitos motores e melhora sintomas negativos e cognitivos. Os atípicos também costumam ser mais tolerados metabolicamente, mas ainda apresentam riscos, como ganho de peso.

Quando usar antipsicóticos típicos ou atípicos?

A escolha depende do quadro clínico, histórico e perfil do paciente. Típicos são úteis em emergências psiquiátricas ou quando há boa resposta prévia. Atípicos, por sua vez, são preferidos quando se busca evitar efeitos motores ou tratar sintomas negativos/cognitivos. Fatores como comorbidades e acesso ao tratamento também influenciam.

Quais os efeitos colaterais comuns?

Os típicos tendem a produzir efeitos motores, como rigidez, tremores, acatisia e discinesia tardia. Já os atípicos estão mais relacionados a efeitos metabólicos: aumento de peso, alterações no colesterol, risco de diabetes e sonolência. Clozapina exige atenção especial para agranulocitose, sendo necessário controle laboratorial frequente.

Antipsicóticos atípicos são mais seguros?

Depende do contexto. Atípicos têm menor risco de efeitos motores, o que melhora a qualidade de vida para muitos pacientes, mas podem causar efeitos metabólicos sérios que exigem acompanhamento rigoroso. A escolha deve ser individualizada, levando em conta riscos, benefícios e o perfil do paciente.

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Bruno

Sobre o Autor

Bruno

Bruno é um experiente copywriter e web designer, especializado em criar conteúdos e soluções digitais para o setor de saúde e bem-estar. Apaixonado por tecnologia e inovação, dedica-se a transformar a experiência de gestão em clínicas de psicologia, aproximando profissionais, pacientes e promovendo o uso inteligente de ferramentas digitais para facilitar o dia a dia de todos os envolvidos.

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